O retardamento das compras de insumos agrícolas
Publicado em: 22/04/2024
Por Ivan Ramos, diretor executivo da Fecoagro
Esse assunto é recorrente. Todos os anos ele precisa voltar à tona. Parece que os principais interessados não gostam de planejamento e prevenção na atividade agropecuária. Preferem correr riscos. O abastecimento dos insumos para o próximo plantio. Em anos anteriores, já demonstramos que há necessidade de se planejar para garantir o abastecimento dos insumos e reduzir os riscos de pagar muito mais caro na época da utilização. Ou o pior: ficar sem o produto.
É verdade que o mercado está confuso. Muita volatilidade. Preços dos fertilizantes numa gangorra de sobe e desce, e os grãos em queda. Isso induz o agricultor à dúvida de quando comprar. Mas especificamente no caso dos fertilizantes, existe um agravante a mais. A necessidade de cumprir certo tempo para conseguir o produto para a hora do plantio. Como as matérias-primas são quase todas importadas, precisa de um certo tempo para elas chegarem. Para se ter a segurança de que o produto final estará à disposição do agricultor, é necessário pelo menos 90 dias de antecedência, entre comprar e entregar. Portanto, não se trata de um produto de prateleira e sim de planejamento prévio.
Hoje as cooperativas não estão adquirindo os produtos para a próxima safra de verão, por falta de definição dos agricultores. Ninguém quer correr risco de estocar produtos e, numa eventual queda, perder dinheiro, como aconteceu nos últimos dois anos. O único segmento da cadeia que pode perder menos é o agricultor, pois se a relação de troca dos fertilizantes e demais insumos com os grãos está favorável, deveria fechar o negócio agora. Comprar os insumos, vender antecipado parte dos grãos, para garantir os insumos.
Mas parece que não há essa disposição. Dessa forma, se não definir comprar em tempo hábil para chegar os produtos, corre o risco de não ter o abastecimento na época necessária. Do jeito que está, se alguém arriscar importar, será em pouco volume. Talvez tenha a oportunidade de auferir lucros, se os preços subirem por falta de produto. Prevalecerá a Lei da oferta e procura. Essa guerra de planejamento na atividade agropecuária é histórica. O agricultor sempre querendo pagar menos pelos insumos – e é legítimo – e ganhar mais nas vendas, que também não deixa de ser um direito, mas que na média isso não acontece. Entretanto, tem esquecido do risco de ficar sem o produto. Plantar sem tecnologia, todos sabem que a produtividade é outra. Daí sim não fechará a conta. Portanto, mesmo que em parte, os agricultores deveriam se abastecer, garantindo a sua compra. Do contrário, poderá ficar sem o produto, ou pagar mais caro e perder ainda mais. Pense nisso.
Fonte: Fecoagro