Depois da chuva vem o sol

Publicado em: 03/06/2024

Por Ivan Ramos, diretor executivo FECOAGRO

A vida é cheia de surpresas. Muitas delas até poderiam ser previsíveis, porém, o ser humano parece preferir apagar incêndios ao invés de se prevenir. Os problemas climáticos que acontecem com frequência no país e no mundo são o mais claro exemplo disso. Não se pode controlar a natureza, mas podemos evitá-los com algumas ações que refletem na natureza. As autoridades muitas vezes tratam os problemas de forma ideológica, sem tomar medidas práticas, e depois acusam o ser humano de insensibilidade com os problemas climáticos.

Por outro lado, também poderíamos minimizar as consequências dessas intempéries se os governantes fossem menos oportunistas e demagógicos em querer aparecer em cima das desgraças dos outros. No caso do meio rural, onde têm ocorrido problemas frequentes, com estiagens ou enchentes; com geadas ou granizo, com vendavais ou outro tipo de intempéries, os problemas têm sido recorrentes. Há uma necessidade urgente de implantar um seguro que cubra os prejuízos em caso de ocorrência dessas catástrofes. Os governos federal e estadual precisam encontrar uma forma de subsidiar os custos do seguro para os produtores rurais, para que em eventuais ocorrências já existam recursos para tal finalidade.

Com certeza, o custo deverá ser menor do que socorrer atividades devastadas em cima da hora, tendo que atropelar decisões. A catástrofe que aconteceu no RS é o exemplo prático de que os prejuízos agora serão assustadores, e os governos terão que encontrar uma forma de ajudar. Afinal, especialmente na atividade agropecuária, a repercussão econômica e financeira será monstruosa, afetando as atividades econômicas no campo e nas cidades, e inevitavelmente também afetará a arrecadação de tributos. Pelo que se viu, a recuperação das atividades no campo será de médio e longo prazos. O pior disso tudo é que mesmo com uma situação como essa, ainda aparecem os oportunistas, de ordem política e econômica. Até os traficantes se aproveitaram do problema no RS para tentar fazer a distribuição de drogas no meio dos donativos. 

Enquanto os brasileiros demonstraram solidariedade, tentando ajudar os flagelados, existem também os inescrupulosos para desviar donativos ou assaltar propriedades atingidas. E por fim, ainda existem os políticos oportunistas querendo tirar vantagens populistas em cima do problema. Autorizar a importação de arroz para controlar o preço pela ameaça de faltar produto foi uma medida precipitada. Alegar que os preços estavam sendo majorados a nível de consumidor devido à quebra da safra RS foi mais uma medida populista para agradar o consumidor dos meios urbanos. Levantamento das entidades do setor arrozeiro informam que 90% da safra de arroz já estava colhida e mesmo com as perdas de lavouras ou estoques do RS, a produção desse ano será equivalente à safra anterior, portanto, sem risco de desabastecimento e necessidade de importação nesse momento. A alegação de que existem empresas beneficiadoras de arroz aumentando preços no mercado interno precisa ser melhor apurada.

Se isso ocorreu, mesmo que de forma pontual, precisa-se punir os gananciosos e não provocar um desestímulo ao produtor que já vem sofrendo com as perdas da safra. Anunciar a liberação de tributos nas importações, forçando baixa de preço artificialmente, quem vai perder será o produtor de arroz. Segundo o Ministro da Agricultura, o agricultor não está ganhando com a majoração dos preços e sim os intermediários. Pode até ser, mas houve muita precipitação em anunciar esse “benefício”, provocando inclusive, a subida de preços no exterior nas exportações para o Brasil. Se o governo brasileiro pretende subsidiar o preço final, para fazer média com o consumidor, quem vai pagar a conta será o contribuinte para cobrir a diferença de preços dos custos de importação.

E por último, outra atitude politiqueira. O governo federal visitando o RS por diversas vezes, acompanhado pela grande mídia, tem intenção apenas de lograr dividendos políticos. Um verdadeiro teatro, inclusive com ensaios onde há um palco montado para o presidente da república se mostrar penalizado com os atingidos, com objetivos puramente políticos. É lamentável que se aproveite dessa situação para fins eleitorais, querendo recuperar popularidade no sul do país. O que se espera é que pelo menos o que está sendo anunciado de apoio do governo federal ao RS seja concretizado, e não mais uma daquelas medidas que no auge das emoções se anuncia apoio, depois a burocracia impede a liberação, e o prejuízo acaba ficando para a população atingida. Enquanto não se resolvem os problemas políticos, vamos continuar solidários com nossos irmãos gaúchos, e crentes de que “após a chuva vem o sol”. Pense nisso. 

Fonte: Fecoagro