Futuro do agro em SC depende de ferrovias
Publicado em: 01/07/2024
Por Ivan Ramos, diretor executivo Fecoagro
Santa Catarina é considerado por todo o país como um estado diferenciado, e não apenas por nós, catarinenses, que queremos nos vangloriar. Em qualquer região do país e até do exterior a referência é repetida em todos os sentidos. Devido à sua ocupação demográfica bem distribuída em médias cidades e não concentrada como em outras capitais, o estado se destaca. Possuímos uma bem estruturada diversificação comercial, industrial, turística e agropecuária. Isso até tem provocado certa inveja em outras regiões, principalmente no setor agropecuário e cooperativista, onde muitas vezes são citados valores econômicos mais importantes do que a diversidade de atividades e o padrão de vida da população.
Por sermos um território predominantemente minifundiário, nossos produtores rurais têm que ser criativos ao diversificar as culturas e outras atividades no campo. Temos inúmeras atividades agropecuárias praticadas em pequenas áreas e, por termos acompanhado as novas tecnologias com a excelência da pesquisa que temos, nos diferenciamos. Não usamos nossa diferenciação como exibicionismo, mas sim como modelo aplicável em outras regiões similares, o que requer determinação dos agricultores e apoio governamental para dar o start. Os próprios agricultores precisam se unir em cooperativas e entidades associativas para formar escala e serem autossuficientes. Os governos, em todos os níveis, ajudariam muito apenas reconhecendo o efeito multiplicador da cadeia do agro e não atrapalhando. O cooperativismo catarinense, exemplo nacional em termos de integração, intercooperação e diversificação, auxilia nos negócios das pequenas propriedades e no desenvolvimento socioeconômico do estado. Mais da metade da população está associada a algum ramo do cooperativismo, o que significa que, considerando o número de pessoas em cada família, praticamente toda a população do estado está envolvida no cooperativismo, sendo Santa Catarina o estado mais cooperativista do Brasil.
No entanto, nem tudo são flores por aqui. Temos espinhos em nosso jardim, como a falta de valorização do agro pelos poderes públicos. Enfrentamos problemas nas estradas rurais e nas ligações com os portos e mercados; problemas de conectividade com a internet; insuficiência de energia trifásica; dificuldades na estrutura portuária; e, principalmente, na malha ferroviária que conecta a região de produção de matéria-prima com os mercados. As ferrovias são discutidas há mais de 20 anos e nunca saem do papel. O poder público não tem recursos para investir nisso, mas poderia delegar para que outros investidores o façam.
No oeste do estado, sob a liderança da ACIC e com o apoio de diversas entidades, inclusive o sistema cooperativo, já estão sendo investidos no projeto da ferrovia que ligará a região produtora de grãos do centro-oeste brasileiro ao sul do país, suprindo as agroindústrias com matérias-primas para a produção de proteínas animais. Argumentar que a construção dessa ferrovia vai desviar a produção de exportação agropecuária para outros portos fora do estado parece um argumento muito simplista. Se precisamos de uma ferrovia do Oeste para nosso litoral, que isso também seja tratado, mas impedir que se traga matéria-prima do centro-oeste para a produção de carnes em nossas agroindústrias é dar um tiro no pé.
Para ter o que exportar, precisamos de insumos para a agroindustrialização. O bairrismo ou outros interesses precisam ser superados, sob pena de em breve vermos inviabilizada a mais expressiva atividade econômica de exportação de SC. Portanto, em vez de criticar o projeto da ferrovia, deveríamos todos nos engajar e apoiar essa iniciativa. Caso contrário, ficaremos literalmente na estaca zero, sem produção e sem exportação. Pense nisso.
Fonte: Fecoagro