Agronegócio surpreendendo e surpreendido
Publicado em: 18/09/2023
Por Ivan Ramos, diretor executivo da Fecoagro
Esse agronegócio faz coisas! Mas também leva outras coisas! Há alguns anos, é certo que a atividade se popularizou na divulgação nos meios urbanos, tendo sua importância reconhecida pela população, especialmente na época da pandemia, quando tudo parou, menos o agronegócio, que continuou produzindo, garantindo a alimentação da população e sustentando nossa economia. Apesar dos contratempos climáticos, das incertezas no mercado e do pouco caso das autoridades em relação ao setor, continuamos crescendo, nos modernizando, ampliando a produtividade, inovando e dando exemplos de desenvolvimento para outros setores da nossa economia.
O dado mais recente divulgado pelo Governo Federal, mostra que a safra agrícola no Brasil cresceu 18,4% neste ano, ultrapassando 322 milhões de toneladas, ou seja, 50 milhões de toneladas a mais do que a colheita da safra passada. Cresceu em produtividade e em área plantada, demonstrando que avançamos sempre, apesar de muitas vezes sermos ignorados ou questionados pelas autoridades federais e até estaduais.
Sempre que se apresenta uma proposta de apoio governamental ao setor agropecuário, a ladainha é grande, para sensibilizar os detentores do Poder de que o setor é multiplicador, que gera tributos, oportuniza novos empregos, movimenta a economia e garante resultados para outros setores do comércio, indústria e prestação de serviços. Mesmo com boa parte dos governos desprestigiando o setor, o agronegócio continua a crescer.
O Governo Federal, além de acusar o setor no exterior de causar desmatamento e incêndios, tem ignorado importantes providências necessárias para o setor agropecuário: deixa o produtor de leite local na berlinda e passa a defender acordos internacionais, sob o argumento de que precisa retribuir exportações para países do Mercosul e facilita importações de leite, sem impostos e com preços aviltados. Beneficia produtores internacionais em detrimento dos nossos pequenos produtores brasileiros.
Por outro lado, para atender a outros grupos poderosos alinhados com os governantes, queria vetar o plantio da safrinha de soja no sul do país, inviabilizando uma renda extra para nossos agricultores e provocando outras consequências indesejáveis. Os argumentos dessa medida são discutíveis. Alegar que o plantio em determinada época facilita a incidência de doenças nas plantas foi outra demonstração de desconsideração para o agricultor do sul do país. Não foi fácil conscientizar sobre as particularidades climáticas dessa região.
As entidades de representação dos agricultores apresentaram inúmeras justificativas da necessidade de revisão dessas medidas, tanto no caso do calendário agrícola como nas importações de leite do Mercosul, mas os resultados foram insuficientes. Em nível estadual, nossa força também parece pouco representativa. Apesar de a área técnica ter demonstrado as consequências dessas medidas, na esfera política parece que não houve sensibilização.
Parlamentares federais foram acionados para interferir em Brasília, mas poucos deram atenção ao fato. Nem respostas aos pleitos foram dadas. No Executivo, o pedido de audiência para o setor para discutir os assuntos teve pouca prioridade no governo. Está demorando para dar resposta. Infelizmente, o setor agropecuário continua sendo o patinho feio dos governantes. Mesmo assim, continua surpreendendo na produção e produtividade e é surpreendido pela falta de atenção das autoridades. O setor agro precisa mudar a estratégia nas próximas eleições. Em vez de apenas apoiar candidatos que se dizem representantes do setor, deveria boicotar aqueles que não deram atenção a uma área que continua segurando a economia deste país. Prometeram, assinaram documentos assumindo compromissos e não estão cumprindo. Pense nisso.
Fonte: Fecoagro