Garantia do suprimento de milho é desafio para expansão da pecuária na região Sul, apontam especialistas

Publicado em: 19/08/2024

A redução da área plantada com milho na região Sul e as perspectivas de aumento da demanda pelo cereal têm mobilizado produtores, cooperativas e agentes públicos. Isso porque a pecuária tem grande importância socioeconômica para Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná e o milho é matéria-prima fundamental para a ração de suínos, aves e bovinos de leite. Por isso, a Secretaria de Agricultura e Pecuária (SAR) e a Epagri, por meio do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), promoveram um debate sobre os desafios e as perspectivas da produção de milho no Sul do Brasil.  O evento ocorreu na modalidade online e foi realizado na última segunda-feira.  

Os dados sobre a produção de milho no Rio Grande do Sul foram apresentados pelo assistente técnico em Culturas da Emater – RS, Alencar Rugeri. Já as informações sobre o Paraná ficaram a cargo do analista de Mercado do Departamento de Economia Rural (Deral – PR), Edmar Gervásio. A abordagem da conjuntura catarinense coube ao analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Haroldo Elias.  

Atualmente, nenhum dos três estados da região Sul é autossuficiente na produção de milho. O Paraná, que é o maior produtor, é menos dependente das importações e deslocamentos de outras regiões produtoras. Mesmo assim, a perspectiva de aumento da demanda, especialmente com a instalação de usinas de produção de etanol a partir do milho, tem indicado alterações na distribuição do cereal. “Atualmente, a maior parte da produção de milho no Estado é de segunda safra, a qual é mais suscetível a problemas climáticos”, explica Gervásio.  

No Rio Grande do Sul, além da redução da área plantada motivada pela substituição por soja, que tem apresentado melhor rentabilidade do que o milho nas últimas safras, a infestação com a cigarrinha-do-milho tem colaborado para a redução da produtividade e aumento dos custos de produção.  

Conforme Rugeri, tanto a recorrência de problemas climáticos como a incidência da cigarrinha são fatores que desestimulam os produtores e colaboram para a diminuição das áreas de plantio. Em Santa Catarina, que demanda anualmente cerca de 8,2 milhões de toneladas de milho, a produção, na safra 2023/2024, foi de um pouco menos de 2,18 milhões de toneladas, cerca de 24% a menos do que na safra anterior.  

Conforme Haroldo, os custos adicionais para trazer milho de outras regiões do país ou de países do Mercosul pode reduzir a competitividade da agroindústria catarinense de proteína animal. “Por isso propusemos esse debate, para que possamos pensar coletivamente em alternativas e medidas que possam colaborar para a sustentabilidade da estrutura agroindustrial e de toda a organização produtiva ligada ao setor da proteína animal”, comenta.  

O presidente da Câmara Setorial do Milho do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Enori Barbieri, destaca que o Brasil não possui déficit de milho, pelo contrário, é um grande exportador do cereal. No entanto, o desafio é fazer com que essa produção chegue até os estados da região Sul com um preço que garanta rentabilidade aos produtores do grão e, ao mesmo tempo, viabilize a produção pecuária. Para ele, um dos fatores fundamentais para esse equilíbrio é o investimento em infraestrutura, especialmente ferroviária. Barbieri aponta que essa é uma solução adotada na maioria dos países e que tem potencial para reduzir os custos de produção.  

Também participaram do debate a engenheira-agrônoma Marina Dalla Betta (que trouxe informações sobre a safra de milho nos Estados Unidos) e o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro), Arno Pandolfo que abordou a perspectiva das cooperativas catarinenses. 

Fonte: SAR