Parcerias entre produtor e consumidor predominam nos EUA

Publicado em: 12/08/2024

Por Ivan Ramos 

Aqui nos Estados Unidos, não se ouve falar em cooperativas. Pelo menos aqui na região noroeste do país, na divisa com o Canadá. Mas as parcerias entre produtores e o mercado parecem ser uma prática usual. Vimos isso na produção de lúpulo, gado de corte, uísque e vodca, no vinho, na cultura de batatas e nos supermercados. 

A maioria das indústrias tem sua produção própria como garantia de produção plena, mas também faz parcerias com contratos de fornecimento de matéria-prima com produtores. As duas últimas empresas visitadas pelo grupo de cooperativistas da Aurora aqui nos arredores de Boise, capital do estado de Idaho, comprovaram essa prática. 

A rede de supermercados Albertsons tem contratos permanentes com produtores de hortifrutigranjeiros. Contrata volume por uma safra e garante as compras desde que atendam aos padrões de qualidade exigidos pelo grupo, e acerta os preços a cada dois meses. Se houver algum problema climático ou de pragas que provoque a escassez de produtos, ela pode rever os contratos e os preços. 

A rede Albertsons existe desde 1939. Hoje tem 2.268 lojas em várias regiões do país norte-americano. Tem uma administração diferenciada. Mantém 16 setores, sendo uma espécie de administração regional, com relativa autonomia em cada região. Entretanto, as compras dos produtos indicados pelas regionais são centralizadas. Os pagamentos, ou seja, a gestão financeira das compras, são regionais. 

Essa rede de supermercados está dispensando especial atenção aos produtores de produtos orgânicos. Diz que a demanda tem aumentado, principalmente entre os jovens, e que hoje, dependendo da região do país, varia de 13 a 20% a procura por produtos orgânicos. 

Numa loja dessa rede, os cooperativistas tiveram a oportunidade de participar de uma sessão de harmonização de vinhos e comidas, em um restaurante temático dentro da loja. Um especialista em vinhos mostrou quais tipos de vinhos devem ser consumidos com cada tipo de comida. Foram provados 3 tipos de vinhos brancos e 3 tintos, com comidas adequadas a cada um deles, sendo peixes e carnes. Um almoço diferente. É interessante mostrar que, mesmo com aparente pouca comida, mas harmonizado com vinho, se fica satisfeito na refeição. 

Essa demonstração a rede Albertsons faz em diversas lojas pelo país e é comum nos supermercados americanos, sempre em parceria com as vinícolas. A rede Albertsons não importa diretamente nenhum produto. Compra produtos internacionais através de importadores parceiros. Não foi revelado o valor do uso do seu faturamento. 

Outro sistema de parceria entre empresas e produtores foi constatado na indústria de batatas Simplot. A maior do país. Um complexo de indústrias invejável. A empresa tem 17 fábricas de batatas pelo mundo, inclusive uma em Mendoza, na Argentina. Não tem fábrica nem vende seus produtos no Brasil. 

O grupo visitou a maior fábrica, aqui em Idaho, na região metropolitana de Boise. Trabalha com 5 linhas de processamento de batatas. Recebe e processa 75 caminhões de batatas por dia. Produz 500 mil toneladas de produto final por ano. 

Na fábrica visitada, foi visto todo o processo, desde a entrada da batata suja, sendo lavada, classificada, descascada, cortada em diversos formatos e embalada para o mercado interno e externo. Essa fábrica produz 100 paletes de 1 tonelada por hora. 

Um complexo de equipamentos admirável e totalmente automatizado. Apenas 85 pessoas trabalham na fábrica. As batatas processadas pela Simplot são adquiridas dos produtores de cada região onde tem as fábricas, com contratos de parcerias de compra antecipada anualmente. O estado de Idaho e a região de Boise são a capital da batata aqui nos EUA. 

Esta foi a última visita técnica das cooperativas da Aurora nos Estados Unidos. 

COOPERATIVISTAS DO GRUPO AURORA ENCERRAM VIAGEM AOS EUA

Durante uma semana, um grupo de 18 cooperativistas de SC, PR e MS, ligados à Aurora Coop, com a participação da Ocesc, Sescoop e Fecoagro, participou de um roteiro técnico no estado de Idaho, na região noroeste dos Estados Unidos. 

Liderados pelo presidente da Aurora, Neivor Canton, pelo presidente da Ocesc, Vanir Zanatta, e da Fecoagro, Arno Pandolfo, tiveram a oportunidade de visitar uma região nordeste americana, não tão conhecida pelos brasileiros, por ficar distante dos grandes centros empresariais, turísticos e de produção agrícola, que são frequentemente visitados por brasileiros e por pessoas de outros países do mundo. 

A diversificada programação, organizada pela empresa Kactus, de Chapecó, em parceria com Fernando Figueredo, da empresa Vallei, um brasileiro do Espírito Santo que mora nos EUA há 27 anos, pôde mostrar aos cooperativistas as diversas atividades que são desenvolvidas nessa região americana, que, apesar de distante dos grandes conglomerados populacionais, detém as mesmas características de desenvolvimento dos americanos. 

Produção de lúpulo, batata, pecuária de corte, vinhos, uísque, vodca, trigo, milho e alfafa; visita a redes de supermercados; palestras sobre o mercado americano; contato com políticos e administradores públicos da capital Boise e de cidades da região fizeram parte da programação nos Estados Unidos. 

Todos os dirigentes das 8 cooperativas catarinenses que participaram, mais três do PR e uma do MS, que fazem parte do grupo Aurora, foram unânimes em afirmar que a viagem foi altamente produtiva, não apenas por possibilitar que fossem conhecidas algumas atividades agrícolas e empresariais que são originárias do campo e pouco praticadas no sul do Brasil, mas também pelo relacionamento com autoridades e atores de mercados internacionais. O relacionamento, a troca de experiências e a aproximação entre os integrantes do grupo foram outros pontos positivos que devem ser socializados em cada cooperativa de origem. 

Ao final da viagem, na sexta-feira, os líderes do grupo fizeram duas avaliações. 

O presidente da Fecoagro, Arno Pandolfo, considerou a viagem altamente positiva e ficou surpreso pelo que viu na região de Idaho. 

 

Já o presidente da Aurora Coop, que comemorou seu aniversário em 8 de agosto, distante da família durante a viagem, disse que tudo vale a pena quando se trabalha em conjunto, para o bem de uma causa. O cooperativismo e o homem do campo são o dia a dia que nos detêm. Nossa segunda família, disse Canton, que avaliou a viagem. 

 

Fonte: Fecoagro