Reta final com resultados positivos e negativos para o agro
Publicado em: 16/12/2024
Por Ivan Ramos, diretor executivo FECOAGRO
Estamos nos aproximando do final do ano, e o setor agropecuário começa a fazer avaliações de como foi a safra 23/24 e a safra 24/25, que está em desenvolvimento. Após um período conturbado nessa atividade, consequência de problemas internos e externos, parece que o setor conseguiu sobreviver com certa normalidade, apesar das intempéries em algumas regiões, que resultaram em frustrações de safra de alguns produtos. Contudo, comparados aos resultados de anos anteriores, os números já geram um certo otimismo no setor produtivo do país.
Os insumos agrícolas se normalizaram tanto no abastecimento quanto nos preços, e as commodities se recuperaram. As expectativas de colheitas da safra em desenvolvimento são positivas, com produtividade compatível com o que se esperava. Embora tenhamos registrado avanços significativos em 2024, ainda há pendências a serem resolvidas, principalmente por parte das autoridades federais. Problemas econômicos precisam ser solucionados na esfera fiscal, ou seja, é necessário evitar gastar mais do que se arrecada. Essas questões passam por ações políticas, tanto no Executivo quanto no Legislativo. O ideal seria que essas definições ocorressem ainda neste ano, mas não há segurança de que isso aconteça, pois interesses setoriais e ambições políticas podem atrapalhar.
O tema que mais preocupa o setor agropecuário continua sendo as invasões de terras, que aumentaram neste ano. Parece que o governo federal está pouco preocupado com essa questão, para não dizer que está estimulando tais invasões, com a justificativa ideológica de que terras produtivas deveriam ser ocupadas. A reforma tributária, outra necessidade do país e que repercute em muitas atividades econômicas, também está se arrastando. Interesses políticos e setoriais dificultam que se chegue a um denominador comum que efetivamente atenda os interesses macroeconômicos do Brasil.
As disputas entre Executivo e Legislativo em torno das emendas parlamentares são outra preocupação que atrasa a resolução de problemas. Além disso, o Judiciário frequentemente intervém, colocando mais lenha na fogueira. O ego das autoridades tem dominado o cenário, e o país continua travado.
Um ponto positivo recente foi o acordo firmado entre o Mercosul e a União Europeia, que pode beneficiar o Brasil. Esse acordo representa o início de uma batalha que precisa ser travada em cada país integrante, mas já é um passo necessário para o prosseguimento, mesmo com a resistência de alguns países europeus. É preciso reconhecer que os países do Mercosul talvez sejam os mais beneficiados, com maior abertura comercial em um bloco com grande potencial de consumo.
Segundo os dados anunciados, a soma dos dois blocos — Mercosul e União Europeia — atinge mais de 700 milhões de consumidores. A União Europeia, que tem o dobro da população do Mercosul, detém maior poder aquisitivo, o que aumenta as possibilidades de valorização dos nossos produtos. No entanto, acordos entre blocos econômicos se sustentam em uma via de mão dupla: teremos mais acesso ao mercado europeu, com tarifas equivalentes ou inexistentes, mas também precisaremos importar mais produtos de lá, que, em geral, possuem custos mais elevados, dada sua superioridade tecnológica e experiência de mercado.
Além disso, nossos produtos precisam atender aos padrões de qualidade exigidos pelos mercados internacionais. Por isso, o avanço tecnológico no Brasil precisa acompanhar o que há de mais moderno no mundo. Governos, tanto daqui quanto de lá, precisam evitar interferências ideológicas no mercado, sob pena de comprometer todas as conquistas que levaram 20 anos para serem alcançadas.
O acordo entre o Mercosul e a União Europeia foi um passo positivo, mas precisamos elevar nosso padrão de qualidade e desenvolvimento para garantir que os resultados positivos sejam efetivamente distribuídos entre as populações dos dois lados. Pense nisso.
Fonte: Fecoagro