Saiu a fumaça branca no porto de SFS

Publicado em: 16/09/2024

Por Ivan Ramos, diretor executivo FECOAGRO

Nos últimos meses, o setor de importação de fertilizantes de SC tem enfrentado momentos difíceis e polêmicos, devido aos atrasos na atracação de navios com matéria-prima no Porto de São Francisco do Sul. Os importadores manifestaram preocupação diante da demora para o fornecimento dos adubos dentro do prazo necessário para o plantio. À medida que se aproximava a época de utilização dos insumos nas lavouras e, paralelamente, se constatava a ampliação dos atrasos na atracação dos navios, a tensão aumentava, assim como o relacionamento com a administração do porto. Sem entrar no mérito das razões para o atraso, o fato é que importadores e administradores do porto se desentendiam ao tratar do problema. 

O que mais revoltava os importadores de fertilizantes era a informação de que outros setores estavam sendo privilegiados nas atracações, em detrimento dos fertilizantes. O Porto argumentava que não havia preferência, mas todos sabiam que os navios com madeira sempre tiveram prioridade, conforme normas aprovadas pelo próprio Porto. Quando as tensões aumentavam, até números distorcidos eram divulgados para justificar procedimentos. A Federação das Indústrias foi até acionada para defender o setor industrial, especialmente o siderúrgico. Contudo, os importadores de fertilizantes não reclamavam do setor de aço, mas sim da prioridade dada à madeira. Os navios com madeira, além de não enfrentarem demurrage, tinham preferência para utilizar os terminais. A regra de que a cada três navios de fertilizantes, entraria um de outro produto, embora constasse nas normas, não ocorria na prática. Quando chegavam navios de madeira, todos os demais eram colocados em espera. Essa era a revolta do setor de fertilizantes. 

A defesa do setor era priorizar os fertilizantes devido ao calendário apertado para a entrega aos agricultores. O setor solicitou um berço exclusivo, mas não foi atendido. Também pediram a ampliação da prancha de descarga, ou seja, acelerar o tempo de descarga, além de exigir a atracação pela ordem de chegada dos navios. Felizmente, houve um avanço nesses dois pontos. No início deste mês, a administração do Porto publicou uma nova normativa atendendo a essas reivindicações, mas que só entrará em vigor após 4 de outubro. Foi uma decisão positiva, mas que só trará alívio para a próxima safra. Para essa temporada, a época de entrega dos adubos para o plantio de verão em outubro já passou. 

Portanto, os problemas de atrasos e os custos com demurrage vão continuar este ano, afetando os resultados das indústrias. No entanto, ao menos agora há uma norma planejada para o futuro. Para este ano, o prejuízo já está feito. Apenas a Fecoagro gastou mais de R$ 5 milhões em demurrage neste ano, sem contar os custos dos desvios de navios para outros portos e o transporte terrestre dos fertilizantes até a indústria em São Francisco do Sul. O setor enfrentará prejuízos e ainda corre o risco de ficar com saldo de matéria para o próximo plantio, exposto a perdas com queda de preços. 

O episódio deste ano deixou a lição de que todos os importadores precisam ter um plano B para as importações, como a opção por outros portos. A Fecoagro já está estudando alternativas. A verdade é que o porto de São Francisco do Sul não tem estrutura para o volume atual de movimentação e precisa tomar providências urgentes, pois o problema não se limita a este episódio. Se não houver melhorias, na próxima safra a novela se repetirá. Espera-se que os responsáveis não deixem para discutir isso em cima da hora. Pense nisso. 

Fonte: Fecoagro