Por Ivan Ramos, diretor executivo FECOAGRO
O ser humano precisa ser criativo para sobreviver, especialmente em um país com deficiências crônicas, apesar dos anunciados esforços para resolução, que nem sempre acontecem. Crises em determinados setores induzem a busca de alternativas para se manter no mercado. O agronegócio tem enfrentado situações inusitadas nas suas atividades. Os riscos no campo não estão apenas sujeitos às variações climáticas ou de mercado, mas também à falta de infraestrutura da porteira para fora.
Lembro que, há mais ou menos 30 anos, o setor enfrentava um problema de abastecimento seguro de defensivos agrícolas e fertilizantes. As empresas multinacionais controlavam as tecnologias, dominavam o mercado e ditavam os produtos e preços. Os pequenos agricultores estavam sempre nas mãos dos intermediários e especuladores, pouco preocupados com a qualidade e os resultados no campo. Com o avanço das tecnologias, os agricultores, mesmo os de pequeno porte, acompanharam esse progresso, principalmente com o advento dos dias de campo, liderados pelo sistema cooperativo.
As cooperativas foram se profissionalizando, os gestores ficaram mais preparados, os técnicos mais capacitados, e a integração e união de forças em cooperativas de segundo grau possibilitaram que se tornassem empresas mais competitivas, inclusive em relação às multinacionais, oferecendo alternativas de resultados aos seus associados. Aury Bodanese, um dos precursores do cooperativismo integrado em SC, teve a ideia de construir uma indústria de fertilizantes para acessar os mercados internacionais de matéria-prima, oferecendo garantia de qualidade e preços justos, sem excessiva intermediação e especulação. Seus sucessores no comando da Fecoagro deram continuidade ao projeto da indústria própria de fertilizantes. Depois de muita pesquisa sobre a forma jurídica e o local para a construção, definiu-se pelo investimento no Porto de São Francisco do Sul.
Mesmo em um mercado altamente concorrido e com grandes players internacionais na disputa, a indústria própria das cooperativas avançou, ampliou suas demandas e passou do volume inicial de 65 mil toneladas em 2004 para 500 mil toneladas em 2023. Esses volumes demandaram novos investimentos na unidade industrial. Comprometidas com o liberalismo no mercado, as cooperativas investiram seus próprios recursos em um setor altamente disputado, e avançaram.
Infelizmente, a infraestrutura dos poderes públicos não acompanhou esse desenvolvimento. Rodovias e ferrovias não reconheceram o aumento da demanda. Os portos também não. A falta de capacidade de recebimento e escoamento de produtos no Porto de São Francisco do Sul ficou para trás, apesar dos esforços de alguns dos seus gestores públicos. Agora, quando as cooperativas assimilaram a vantagem da indústria própria de fertilizantes e ampliaram a adesão a cada ano, com produtos especiais, enfrentam dificuldades operacionais nas descargas dos produtos. O principal porto de granéis está saturado em sua capacidade, e sua ampliação e modernização sofrem pela burocracia do serviço público para concretização de melhorias. Infelizmente, o poder público não acompanha o desenvolvimento do setor privado.
A alternativa para seus usuários é procurar outros portos em outros estados. Isso gera prejuízos não apenas aos usuários, mas também para o estado de SC, ao município e aos empregos locais. No caso da Fecoagro, após investimentos que hoje ultrapassam a valorização de R$ 1 bilhão em São Francisco do Sul, será necessário buscar outras alternativas portuárias. As cooperativas decidiram que não podem perder o que já conquistaram na redução dos custos de produção nas lavouras. Portanto, devem montar outra estrutura no Porto de Rio Grande, para importar por lá e continuar atendendo os agricultores cooperados.
Para a próxima safra, a partir do início de 2025, as cooperativas de SC, através da Fecoagro, devem ter a alternativa de operar no RS, para atender suas filiais no RS e no oeste catarinense. Mais uma iniciativa que ligará ainda mais nosso estado a outros, para sobreviver. Essa providência visa assegurar qualidade e preços justos aos agricultores, algo que precisa ser valorizado pelo agricultor, pelo setor e pelos governos. Nem precisamos repetir aqui o quão importante é a agropecuária catarinense para a economia e a sociedade do estado. Pense nisso!
Fonte: Fecoagro