Brasil não sabe a importância de sua agricultura

 

“O Brasil é o país que mais contribui para a alimentação do planeta. Estamos dobrando a produção em tempo cada vez menor e devemos atingir 600 milhões de toneladas até 2035, tudo isso com a maior reserva ambiental do mundo financiada e sustentada pelo produtor brasileiro que não recebe nenhum centavo e arca com o maior custo da preservação. Quem mais preserva o meio ambiente e a diversidade não é o governo e muito menos as ONGs, mas os produtores rurais.” As manifestações são do economista  Antônio da Luz durante o Seminário Estadual de Líderes Rurais promovido pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), na última semana em Florianópolis. O evento reuniu quase uma centena de dirigentes dos Sindicatos Rurais do estado e foi coordenado pelo presidente da Faesc José Zeferino Pedrozo.    

Antonio da Luz é economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em Economia (UFRGS) e doutor em Economia do Desenvolvimento pela PUC-RS. Atualmente chefia o Departamento de Economia da Farsul, em Porto Alegre (RS). Ele focalizou o agronegócio brasileiro sob a perspectiva da economia, da preservação ambiental e do impacto social. Mostrou que há 50 anos, a população mundial estava assim dividida: a cada 100 pessoal, 67 viviam no campo produzindo alimentos para si e para outros 33 consumidores urbanos. Em 2010, pela primeira vez na história da humanidade, a população urbana tornou-se maior que a rural, no mundo. No período de 2010 a 2050 a população mundial crescerá 33%, passando de 6,9 bilhões (2010) para 9,1 bilhões de habitantes (em 2050). Para cada 70 habitantes das cidades haverá apenas 30 produzindo alimentos no meio rural, em 2050. 

“Essa situação representa uma oportunidade e uma responsabilidade para o agro”, assinalou o economista, mostrando que “além de uma população maior teremos uma população mais rica, portanto, consumindo mais.” 

O professor chama a atenção que até 2030 4 em casa 5 seres humanos estarão vivendo em países importadores líquidos de alimentos. Mais pessoas com maior renda para melhor se alimentar, concentradas nas cidades e vivendo em países importadores representam um mercado inesgotável para os grandes produtores de alimentos do mundo, como o Brasil. 

“Nosso país tem um papel muito maior do que ele mesmo pensa, porque o mundo não pode viver sem o Brasil”, destacou. O Brasil é o maior exportador líquido de alimentos do Planeta: entre o que importa e o que exporta de alimentos, a balança é positiva em 169,9 milhões de toneladas/ano. O segundo maior exportador é Estados Unidos com 131,5 milhões de toneladas e se distanciando cada vez mais. Em terceiro vem a Argentina com 87,6 milhões de toneladas. Depois seguem Ucrânia, Canadá, Rússia, Índia, França, Austrália e Nova Zelândia. 

A dependência global das exportações brasileiras é cada vez maior, apontou o economista. De soja é de 53%, de carne de frango 42%, de café 26%, de milho 27%, de carne suína 12%, de farelo de soja 27%, de óleo de soja 15% e de carne bovina 26%. 

“Temos impactado positivamente o mundo, reduzindo o percentual de desnutrição pelo efeito da oferta de alimentos e pelo impacto dos preços, porque o preço dos alimentos cai à medida que a produção aumenta”, explicou Da Luz.  

O Brasil tem a maior evolução da área plantada do mundo e a produção brasileira de grãos está dobrando de tamanho em tempo cada vez menor. Levou 28 anos para atingir 100 milhões de toneladas, mais 14 anos para atingir 200 milhões e apenas outros oito anos para chegar a 300 milhões. Projeções indicam que o Brasil ultrapassará as 600 milhões de toneladas/ano em 2035. 

“A sociedade brasileira não tem noção da dimensão e da importância da sua agricultura”, que movimenta uma cadeia de R$ 535,3 bilhões, incluindo a indústria de fertilizantes (R$ 210,2 bilhões), transportes (R$ 2,7 bilhões), indústria química e farmacêutica (R$ 123 bilhões), serviços especializados (R$ 15,3 bilhões), instituições financeiras (R$ 41,2 bilhões), seguradoras (R$ 24,2 bilhões), sementeiras (R$ 51,6 bilhões), indústria extrativa mineral (R$ 10,8 bilhões), indústria metalmecânica (R$ 24,4 bilhões), energia elétrica (R$ 2,8 bilhões), indústria petroquímica (R$ 25,6 bilhões) e indústria da construção civil (R$ 4,8 bilhões).  

A expressão do agronegócio e da agroindústria fica evidente com a constatação de que entre o Top 10 das indústrias brasileiras, o setor de abate e processamento da carne é o maior, com 7,2% do valor bruto da produção industrial total do País. Da mesma forma, o comércio de matérias-primas agrícolas e animais vivos é o maior setor entre o Top 10 do Comércio, com 17,8% do total. O PIB do agronegócio brasileiro atingiu a marca R$ 2,4 trilhões ou 24,3 % do PIB, distribuído entre insumos (6%), agricultura (29%), indústria (23%) e serviços (43%). 

O economista realçou que “qualquer discussão sobre meio ambiente e preservação ambiental sem levar em conta a segurança alimentar da população é conversa fiada”. Para comprovar que o agro preserva, mostrou que as áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais cadastrados no CAR (cadastro ambiental rural) equivalem a dez países da Europa. Mas, se consideradas também as unidades de conservação, as terras indígenas e as áreas militares e as áreas não cadastradas – a superfície resultante equivale a 43 países e mais cinco territórios. 

Fonte: MB Comunicação 

 

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