Abertura de mercado para agro avança, mas encontra barreiras comerciais em alguns países

O Brasil avançou na conquista de mercados para os seus produtos agropecuários nos últimos três anos. Foram 236 mercados abertos desde 2019 até o início deste mês, o que significa a possibilidade de exportar um novo produto por país, com destaque para carnes, produtos para alimentação animal, genética animal e frutas. Mas algumas destas exportações esbarram em entraves que limitam a efetivação do comércio, segundo agentes do setor privado e analistas de comércio internacional ouvidos pelo Broadcast Agro.

O processo de aberturas de mercado para o agro nacional foi intensificado com inúmeras missões internacionais feitas pela ex-ministra Tereza Cristina a fim de concluir protocolos fitossanitários entre o Brasil e os países interessados em receber os produtos nacionais. A pandemia de covid-19 acelerou as negociações, segundo os especialistas, pois aumentou a preocupação dos governos em assegurar a segurança alimentar de suas populações e em diversificar fornecedores, apesar de a crise sanitária ter provocado inviabilidade de visitas presenciais.

Os fluxos comerciais, contudo, não dependem somente das aberturas. “A abertura significa que houve entendimento dos governos quanto à sanidade do produto, mas os exportadores não vão conseguir vender somente pela abertura. A abertura não significa comércio imediato e, sim, a possibilidade de comércio”, explica o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Jean Marcel Fernandes.

Fernandes acrescenta que, após as discussões de sanidade, os governos envolvidos buscam trabalhar nas questões técnicas e políticas para destravar a comercialização. “Às vezes, a tarifa de importação vigente naquele país impede a entrada do produto brasileiro. Em alguns casos, pode ser questão de protecionismo por pressão do mercado local. Em outros, a questão é a competitividade dos produtos brasileiros e até mesmo a necessidade de sua promoção comercial”, explica. Segundo ele, o fato de os processos serem morosos às vezes acabam frustrando a abertura de fato do mercado, ou seja, quando um produto obtém acesso a determinado país talvez não haja mais interesse do setor naquela comercialização ou não há mais condições favoráveis de mercado para a venda do produto.

O trabalho do setor privado é fundamental para materializar o comércio, principalmente, em produtos de maior valor agregado, como os lácteos, avalia a sócia-diretora da consultoria Vallya Agro e ex-assessora especial do Ministério da Agricultura para assuntos relacionados à China, Larissa Wachholz. Entre os esforços necessários, Larissa cita a construção da imagem do segmento no novo mercado em que se insere, o desenvolvimento de marca, a adequação às demandas específicas dos consumidores locais e a busca por nichos de inserção para os produtos. “Nos lácteos, a exportação brasileira para a China ainda é tímida. O país tende a demandar importações de produtos com cálcio adicionado, fórmula infantil e leite em pó, com uma classe média crescente e uma população que agora está aprendendo a consumir estes itens. Temos que nos preparar para isso”, aponta Larissa, acrescentando que a China possui meta de ser 70% autossuficiente na produção de lácteos, o que abre espaço para importações destes produtos.

Além dos variados entraves impostos pelos governos de outros países, a baixa competitividade dos produtos brasileiros de maior valor agregado também limita a entrada dos itens nacionais no mercado externo, na visão dos especialistas em comércio internacional. Jank observa que, no caso das frutas, por exemplo, o custo com logística é tão alto que pesa sobre o valor final dos produtos e até mesmo inviabiliza as exportações para destinos mais longínquos. “Algumas aberturas podem não resultar em comércio porque o país não é competitivo naquele segmento, mas é um problema privado do país”, acrescenta. Para Larissa, a integração da cadeia agropecuária pode contribuir para a redução do custo dos produtos de maior valor agregado e torná-los mais competitivos ante as vantagens comerciais existentes entre alguns players.

Fonte: Por Broadcast Agro.

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