ABPA avalia 2023 como positivo e tem perspectivas ainda mais otimistas para este ano

O setor de proteína animal do Brasil apresentou um desempenho positivo em 2023, apesar dos desafios econômicos e sanitários enfrentados pelo país. No setor de carne de frango, a produção e o consumo apresentaram crescimento, enquanto a exportação superou pela primeira vez a barreira de cinco milhões de toneladas exportadas. 

Na suinocultura, a produção teve alta, o consumo se manteve estável e o volume embarcado superou 1,2 milhão de toneladas. Já na avicultura de postura, a produção e o consumo encerraram o ano com leve variação em relação a 2022, ao passo que as exportações ficaram abaixo do projetado para 2023, mas muito acima do registrado no ano anterior. E a genética avícola brasileira ganha cada vez mais mercado, tendo encerra o último ano com crescimento significativo. 

As perspectivas para 2024 são otimistas. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Luis Rua, analisa o desempenho do setor em 2023 e destaca perspectivas promissoras para o ano que se inicia, sinalizando um horizonte favorável para a avicultura e a suinocultura brasileira. 

Conforme Rua, 2023 fechou com uma produção de carne de frango um pouco menor do que a estimada pela ABPA no início do segundo semestre do ano passado, que previa alcançar até 14,95 milhões de toneladas, no entanto, o número final deverá ficar entre 14,8 e 14,9 milhões de toneladas, crescimento de 2,6% em relação ao total produzido em 2022, que foi de 14,52 milhões de toneladas. “As projeções iniciais de produção sofreram leves oscilações para baixo em comparação com as projeções do início do ano”, pontua. Contudo, a estimativa da ABPA aponta para uma tendência de crescimento em 2024, com até 3,7% de alta na produção de carne de frango em relação ao que volume produzido em 2023, estimada em até 15,35 milhões de toneladas. 

Com aumento previsto em 1%, a disponibilidade de produtos no mercado interno encerrou o ano passado superior ao registrado em 2022, devendo fechar em até 9,8 milhões de toneladas. A expectativa para 2024 é atingir pouco mais de 10 milhões de toneladas. “A produção ligeiramente mais elevada atende ao objetivo de um contexto de maior demanda pelo produto brasileiro tanto no mercado interno quanto no internacional”, enfatiza o diretor de Mercados da ABPA. 

Rua também adianta que o consumo per capita de carne de frango ficará maior que os 45,2 quilos registrados em 2022, mas menor que os 46 quilos estimados para 2023. A estimativa é que o consumo tenha um aumento mais expressivo em 2024, podendo alcançar até 47 quilos per capita, incremento de até 2,2% em relação ao último ano. 

Com a avicultura internacional sob forte pressão dos impactos decorrentes da crise de Influenza aviária de Alta Patogenicidade (IAAP-H5N1), que afetou diversos países ao redor do planeta, o Brasil construiu ao longo das últimas décadas uma sólida relação no mercado externo, que atrelada a imagem internacional do setor avícola brasileiro, ajudou a reforçar a posição do país como auxiliador da segurança alimentar global. Conforme Rua, essa posição contribuiu para que o país conquistasse novas oportunidades, com a abertura de novos mercados para a carne de frango, como da Argélia, Israel e Vanuatu, além de pré-listing para Reino Unido, Chile, Cuba e Singapura. 

Pela primeira vez na história, o setor superou a barreira de cinco milhões de toneladas exportadas, podendo alcançar até 5,15 milhões de toneladas, número até 6,8% superior em relação a 2022, quando atingiu 4,82 milhões de toneladas. E para este ano, as previsões se concentram em um crescimento de até 3,9%, podendo chegar até 5,3 milhões de toneladas enviadas ao exterior. 

O resultado acumulado nas exportações dos 11 primeiros meses de 2023 chegou a US$ 8,977 bilhões, número equivalente ao registrado entre janeiro e novembro de 2022, com US$ 8,976 bilhões. Principal destino das exportações de carne de frango, a China importou entre janeiro e novembro do ano passado o equivalente a 632,2 mil toneladas, volume 28% superior ao registrado no mesmo período de 2022. Na sequência, Emirados Árabes é o segundo maior comprador do Brasil, com 396,4 mil toneladas embarcadas até novembro, baixa de 3,3% em ralação ao mesmo período do ano anterior; e Japão importou 377,6 mil toneladas, queda de 1,6% quando comparado a 2022. Outros destaques no período foram a Arábia Saudita, com 337,4 mil toneladas (+7,2%), África do Sul, com 309,2 mil toneladas (+20,9%), Coreia do Sul, com 184,4 mil toneladas (+9,8%), México, com 172,5 mil toneladas (+28,4%), e Iraque, com 137,6 mil toneladas (184,4%). 

Entre os principais estados exportadores, o Paraná segue líder, com produção total de 1,923 milhão de toneladas entre janeiro e novembro do ano passado, volume 9,34% superior ao registrado no mesmo período de 2022, detendo 42,1% de participação de mercado. Completam o ranking dos cinco principais exportadores os estados de Santa Catarina, com 994,4 mil toneladas (+6,90%), Rio Grande do Sul, com 672,3 mil toneladas (-3,38%), São Paulo, com 268,9 mil toneladas (+6,43%) e Goiás, com 213,1 mil toneladas (+19,90%) 

Quando questionado sobre o cenário atual da avicultura de corte brasileira, Rua é enfático ao afirma que segue desafiador, assim como registrado nos últimos cinco anos. Segundo ele, embora o preço do milho e do farelo de soja estejam em patamares menores em relação ao registrado entre 2020 e 2022, outros custos agregados seguem elevados e há uma maior pressão na competição de mercado entre as proteínas, com a ampliação da oferta de carne bovina. 

No entanto, por outro lado, o mercado internacional está ainda mais demandante por produtos brasileiros, o que gera certo equilíbrio e a perspectiva de estabilidade no quadro para os próximos meses. “Espera-se para este ano um cenário de custos produtivos estáveis em relação ao ano passado. É o mesmo que se espera da demanda interna por produtos. Há um potencial incremento nas exportações, mas com perspectiva moderada, de olho na necessidade de uma visão estratégica sustentável, também, do ponto de vista comercial”, evidencia. 

O Brasil mantém sua posição como único entre os grandes produtores e exportadores mundiais livre da Influenza aviária de Alta Patogenicidade (IAAP-H5N1) na produção industrial, o que permite ao país manter o status sanitário como livre da doença perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). “É uma vitória do Brasil, seja pela perspectiva das ações do Ministério da Agricultura no amplo monitoramento da enfermidade, como também na adoção de protocolos altamente restritivos por parte dos produtores e das agroindústrias para a preservação da biosseguridade”, declara Rua. 

Pela América do Norte, Europa e Ásia, entretanto, as crises sanitárias seguem em curso, com crescimento dos casos desde outubro do ano passado em grandes produtores como a França, o Reino Unido, o Canadá e os Estados Unidos. 

Em solo brasileiro, foram registradas mais de 150 ocorrências confirmadas em animais silvestres e três focos identificados em criações de fundo de quintal em 2023. As notificações da doença em aves de subsistência tiveram como impacto imediato a suspensão temporária das exportações do Japão para produtos com origem dos estados do Espírito Santo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, que foram restabelecidas a curto prazo. “O não registro em planteis comerciais é resultado direto do engajamento, incluindo a imprensa, na conscientização de todos sobre a necessidade de total monitoramento e na adoção de medidas de biosseguridade para a preservação do status sanitário, um dos maiores patrimônios da avicultura nacional”, ressalta. 

As recomendações de biosseguridade foram intensificadas, com a difusão de informações e a ampla restrição de circulação de pessoas pelas unidades de produção. “Todos os demais cuidados adotados já eram amplamente difundidos por avicultores e indústrias”, afirma Rua. A ABPA lançou uma campanha setorial massiva nas redes sociais. O portal oferece informações gerais sobre cuidados, orientações para notificação e outros dados relevantes. Além disso, a associação distribuiu materiais eletrônicos aos seus associados como parte dessa iniciativa. 

O diretor de Mercados da ABPA também enfatiza que além da intensificação dos protocolos, o setor tem unificado frentes de atuação junto a outras entidades, tanto no Brasil quanto nas nações vizinhas, com foco na integração de esforços e troca de informações e experiências para fortalecer ações e a expertise do setor produtivo para a manutenção do status sanitário brasileiro. 

No início do segundo semestre, a ABPA previu que a produção de carne suína deveria atingir entre 4,95 e 5,05 milhões de toneladas em 2023, no entanto, segundo Rua, essa projeção sofreu uma leve oscilação para cima e deve encerrar o ano com até 5,1 milhões de toneladas, crescimento de 2,3% em relação a 2022, quando alcançou 4,983 milhões de toneladas produzidas. “O aumento da produção é efeito direto do incremento das exportações do setor”, sentencia o diretor de Mercados. 

Para 2024, a estimativa da entidade é atingir até 5,15 milhões de toneladas de carne suína produzidas no país, incremento de 1% em relação ao ano passado. A disponibilidade de produtos para o mercado interno se manteve estável, com total de 3,88 milhões de toneladas, variando para até 3,85 milhões de toneladas em 2024. O mesmo deve ocorrer com o consumo per capita, repetindo o índice de 18 quilos registrado em 2022, que também é estimado para o ano que se inicia. 

Com registros ao longo de 2023 de médias mensais superiores a 100 mil toneladas, o país superou em 11 meses o equivalente ao realizado durante todo o ano de 2022 em volume e receita. Entre janeiro a novembro, as exportações do setor registraram alta de 10%, com 1,118 milhão de toneladas exportadas, contra 1,017 milhão de toneladas no ano passado. 

No mesmo período, a receita acumulada chegou a US$ 2,586 bilhões, saldo 11,5% superior ao total registrado em 2022, com US$ 2,319 bilhões. Com estes números e faltando dezembro para fechar o balanço, o país deve superar 1,22 milhão de toneladas, crescimento de 8,9% quando comparado com 2022, quando foram exportados 1,12 milhão de toneladas. “É algo inédito na história do setor. Salvo as vendas para a China, todos os outros países importadores registraram alta nas importações da carne suína do Brasil no último ano, confirmando uma tendência já prevista pelo setor de ampliação da capilaridade das exportações, fortalecendo a presença do produto em destinos de mercados de alto valor agregado, como o Japão, a Coreia do Sul e os Estados Unidos”, frisou Rua. 

Para este ano, a ABPA projeta crescer até 6,6% no mercado externo, atingindo em torno de 1,30 milhão de toneladas exportadas. “Existem boas perspectivas de incremento nas exportações a partir da abertura de novos mercados e a ampliação em destinos já consolidados, também em função da desaceleração dos embarques de importantes concorrentes, como é o caso da União Europeia e do Canadá”, afirma Rua. 

Principal destino das exportações de carne suína do Brasil no último ano, a China importou entre janeiro e novembro o total de 362,1 mil toneladas, volume 11% menor que o total importado no mesmo período de 2022. No segundo posto se encontra Hong Kong, com 114,2 mil toneladas, volume 27,3% superior ao registrado em 2022. Também em movimento positivo estão Filipinas, com 113,1 mil toneladas (+46,9%), Chile, com 76,4 mil toneladas (+39,3%), Singapura, com 57,9 mil toneladas (+13,7%), Vietnã, com 45,3 mil toneladas (+3,7%), Uruguai, com 43,8 mil toneladas (+11,2%) e Japão, com 35,3 mil toneladas (+47,7), entre outros. 

Principal estado exportador, Santa Catarina embarcou 599,9 mil toneladas de carne suína entre janeiro e novembro do ano passado, número 9,2% superior ao registrado no mesmo período de 2022. Em segundo lugar, o Rio Grande do Sul exportou 258,5 mil toneladas (-3,1%), seguido por Paraná, com 155,3 mil toneladas (+20,3%), Mato Grosso, com 27,9 mil toneladas (+83,7%) e Mato Grosso do Sul, com 23,1 mil toneladas (-24,9%). 

Em relação aos custos de produção na suinocultura, Rua destaca que o preço do milho e do farelo de soja, embora menores que nos últimos três anos, ainda representaram um desafio enorme ao produtor, especialmente quando somado aos demais custos agregados até o produto final. “A situação foi ainda mais desafiadora diante da elevação da competição entre as proteínas, com a maior oferta de carne bovina”, pontua. 

Conforme o diretor de Mercados da ABPA, para este ano é esperado estabilidade nos custos, assim como nos níveis de produção e consumo. A principal expectativa está sobre as exportações, que deverão seguir em ampliação como resultado direto da abertura de novos mercados para o setor ao longo do ano passado. “Com a abertura do mercado do Peru, México e República Dominicana ampliamos a participação em outros países por meio do sistema de pré-listing”, expõe. 

Fonte: O Presente Rural 

 

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