As cooperativas são diferentes de outras empresas

Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro

Quem convive com o movimento cooperativista já sabe e sempre que pode gosta de relembrar: as cooperativas são diferentes de outras empresas, em qualquer atividade ou ramo de negócio, mas precisamos falar e praticar esse modelo, em todos os níveis de gestão.

Na semana que passou tivemos a oportunidade participar de um curso promovido pelo Sicoob Central de SC, que reuniu membros dos Conselhos de Administração de cooperativas de crédito, para mostrar as suas responsabilidades como gestores estratégicos das cooperativas, onde foram demonstradas as diferenciações que existem em uma cooperativa de crédito e o sistema bancário convencional. O currículo do curso foi bastante oportuno ao abordar o cooperativismo no geral e as normas do crédito que tem lei especifica, mas também vale para qualquer ramo do cooperativismo.

O palestrante demonstrou profundo conhecimento da legislação e da prática bancária e, por repetidas vezes, ressaltou que cooperativa é diferente de banco e, como tal, precisa sempre estar pensando no associado, que também é o cliente e deve ter atenção especial. Essa premissa também é válida para associados das cooperativas agropecuárias e as lideranças precisam estar conscientes disso e cobrar dos gestores nas cooperativas.

Ao mesmo tempo em que se pretende profissionalizar a gestão nas cooperativas e se atribui metas de resultados à empresa, cabe aos conselheiros eleitos monitorar se os interesses econômicos não estão se sobressaindo aos interesses sociais. Não dá para pautar somente no econômico, pois se assim se proceder, não é cooperativa e sim uma empresa mercantil. O controle dos gestores na área comercial e financeira deve ser dos conselheiros de administração e fiscal, que são os representantes dos associados na direção da sociedade.

A ânsia por resultados às vezes fazem esquecer que a cooperativa é uma prestadora de serviços aos seus associados, e que todo o ganho que for auferido no negócio, deve de alguma forma retornar aos seus investidores, que são os associados. A filosofia cooperativista é muito bonita, mas ela precisa se transformar em prática. É verdade que tem havido avanços de certo tempo para cá, mas ainda há espaço para melhorar.

As sobras de final de exercício devem ser distribuídas na proporção da participação de cada associado nos negócios, mas esse não deve ser o objetivo principal em qualquer tipo de cooperativa. A sua capitalização é importante e necessária, mas deve haver uma dose de bom senso e lembrar que os beneficiados são aqueles que investem na cooperativa e correm os riscos de num eventual resultado negativo terão que pagar a conta. Os colaboradores devem ser remunerados condignamente, e até estimulados com algum incentivo, mas não devem ser os principais beneficiados com algo que não investem e seu trabalho deve estar compatibilizado com o mercado.

Em que pese ter que se respeitar a individualidade empresarial de cada uma, ainda há um resquício de divergência entre cooperativas de crédito, com as agropecuárias e o palestrante, mesmo que veladamente e superficialmente, estimulou essa divergência. Há se considerar que pelo menos em SC, foram as cooperativas agropecuárias que deram o impulso inicial nas de crédito, e isso precisa ser reconhecido. Ademais, via de regra, os associados das cooperativas dos dois ramos, em sua maioria são os mesmos, portanto, não se pode pregar independência total e criticar o ramo agropecuário, que tem outro foco, mas com o mesmo objetivo: beneficiar os associados.

Portanto, se cooperativismo é cooperação em busca de resultados de interesse comum, na devida proporção da participação, o comportamento dos gestores na área econômica não pode ter diferentes tratamentos por associado e nunca se esquecer do social, afinal somos cooperativa. Os conselheiros eleitos têm um papel importante nesse processo, isto é, aproximar os interesses econômicos dos sociais, sem prejudicar nenhuma das partes. Pense nisso.

Fonte: Fecoagro

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