Brasil precisa do agro, mas tem que agregar valor, diz Troyjo, na FIESC

“O agronegócio é extraordinariamente importante e o Brasil não se desenvolverá sem ele, mas também não se desenvolverá apenas com ele, porque precisará agregar valor em diferentes setores”, afirmou o ex-presidente do Banco do BRICS, Marcos Troyjo. Ele ministrou uma palestra na Federação das Indústrias (FIESC), perante uma plateia de lideranças industriais e políticas, na qual explicou como o aumento da população mundial para 10 bilhões de habitantes em 25 anos e a reorganização das cadeias globais de valor abrem oportunidades para países como o Brasil, o México e a Índia.  

Apesar do cenário positivo que se delineia, Troyjo destacou que, para que o Brasil possa se beneficiar, não pode adotar uma postura de “fortaleza de protecionismo comercial”. “Não podemos nos fechar em relação ao resto do mundo”, alertou ele, economista e diplomata, que também foi um dos principais negociadores do acordo Mercosul-União Europeia.  

Durante sua palestra, Marcos mencionou que quanto mais complexa e diversificada for uma economia, e quanto mais ela puder agregar valor em diversos setores, maiores serão as chances de prosperidade e sucesso. “Temos diversos países que, ao usar estratégias inteligentes, podem tirar vantagem do novo cenário internacional”, explicou, observando que o Brasil está entre eles devido à combinação entre o tamanho do mercado interno, a capacidade de produção de alimentos (necessários para o mundo), a abundância de água e a significativa experiência em industrialização (até os anos 1980, o principal parque industrial do hemisfério Sul estava no Brasil).  

Nos próximos 25 anos, as projeções indicam que a população mundial crescerá de cerca de 8 bilhões de habitantes para 10 bilhões. “Isso resultará em uma enorme pressão em termos de demanda para a agroindústria, para bens de infraestrutura e também levará a um redesenho das cadeias globais de valor, ou seja, das redes de produção. “Nos acostumamos, nos últimos 25 anos, a ver a China como uma espécie de fábrica global. No entanto, devido a razões geopolíticas e à própria evolução da economia chinesa, as atividades principalmente manufatureiras que estão na China se deslocarão para outras partes do mundo”, ressaltou o economista, explicando o que ele chamou de “desindustrialização da China”.  

Troyjo explicou que o Brasil pode atrair parte dessa produção, mas está competindo com outros países que já estão se beneficiando dessa desindustrialização chinesa: a Índia, que possui uma estratégia industrial para atrair capitais que estão saindo do país asiático; o México, que em grande medida se beneficia por fazer parte de um acordo comercial que envolve os Estados Unidos e o Canadá, e também por ter realizado 48 acordos comerciais com outras regiões desde os anos 1990, além do Canadá, que está atraindo indústrias intensivas em valor. “Portanto, haverá uma reconfiguração das cadeias globais de valor. E aqui faço uma pergunta a todos vocês: qual país no mundo tem a extensão territorial, a combinação de vigor e tamanho do mercado interno, recursos naturais abundantes, uma classe gerencial capacitada e que possui todas as chances de atrair esse capital? É o Brasil.” 

Fonte: FIESC 

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