Grãos de inverno para ração voltam à tona

Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro

O tema de hoje é recorrente. Já foi tratado por diversas vezes, mas continua sendo importante e na ordem do dia em SC. O suprimento de matéria-prima para produção de ração e abastecimento da cadeia de carnes e leite em nosso Estado. Vez por outra o assunto volta à pauta, especialmente quando por qualquer motivo denota-se com falta de milho em Santa Catarina.

As transformações no processo de produção e comercialização de milho têm sido dinâmicas e atacadas de diversas formas, mesmo quando os resultados são positivos, não suprem nossas necessidades. O aumento da produtividade em nosso Estado, a maior do país, fruto dos incentivos em subsídios para sementes de alta tecnologia e a correção do solo; e as alternativas de importações de outros estados e países, pode minimizar o problema, mas certamente não deverá eliminá-lo. Voltamos a usar a famosa frase: Esse é um bom problema para SC. Se temos carência de milho, é porque temos fábricas de transformação em carnes em volumes invejáveis, agregando valor. Mas não podemos deixar cair nossa liderança nacional no setor.

A alternativa de suprir matérias-primas por grãos de inverno também é a tratativa que vem sendo discutida e que avançou pouco até agora, mas que continua sendo uma saída viável e recomendada. Diversas reuniões já foram realizadas com a cadeia produtiva das carnes para tentar viabilizar a substituição de pelo menos em parte o milho por trigo ou triticale, mas a comodidade da utilização de milho tem desestimulado tanto plantadores como consumidores.

Do lado dos plantadores a justificativa é que para plantar trigo para ração precisa ter comprador com preços compatíveis com os custos de produção. Para os consumidores a justificativa é de que o trigo pode ser usado se tiver qualidade e preço compatível com o mercado, isto é, não superior ao milho. A situação hoje não é essa.  Os técnicos dizem que há viabilidade de produzir grão de inverno que sirva para fazer ração e que é vantagem para o produtor, pois otimizará o uso da terra em épocas de inverno, conseguindo uma renda adicional na propriedade, mas precisa ter tecnologia. Precisa se fazer um programa de integração como se fosse um fomento. Desenvolver sementes adequadas e garantia de compra antecipada do produto.

As cooperativas estão se dispondo a financiar o plantio e adquirir o trigo para repasse às agroindústrias. Se o mercado atual não comporta o preço pretendido pelos agricultores, há que se encontrar maneira de aumentar a produtividade para que seja viável o plantio e rendimento para pagar a lavoura.

Em reunião recente na Secretaria da Agricultura o secretário Ricardo de Gouvêa foi enfático: as agroindústrias precisam incluir no seu receituário de produção de ração uma parte de trigo ou triticale. Mas permanentemente e não somente quando falta milho no mercado. Daí poderá haver interesse pelo plantio. O secretário assegurou na última reunião que o Estado vai ajudar no que lhe compete, isto é, mobilizar a Epagri e a Embrapa para pesquisar sementes de qualidade que garanta maior produtividade do que as atuais. Também sinalizou com a possibilidade de subsidiar o custo de seguro das lavouras, para reduzir os custos de produção. As agroindústrias presentes na reunião – Aurora e JBS – manifestaram interesse de parceria na aquisição do produto, desde que tenha qualidade e preços.

O que falta? Decisão de fazer. Para a presente safra já passou, para a próxima há tempo para planejar, viabilizar as providências e responsabilidade de cada elo da cadeia. Ao que parece, o processo avançou e no início de agosto haverá outra reunião com todos os interessados no produto para definir responsabilidades de cada um na cadeia. Uma coisa é certa: temos que sair da zona de conforto e não ficar arrumando desculpa para justificar dificuldades. É plenamente possível visualizar que o negócio é bom para todos, desde que haja vontade de mudar alguma coisa. Pense nisso.

Fonte: Fecoagro

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