O agro catarinense sob prova de resistência

Por Ivan Ramos, diretor executivo da Fecoagro 

O estado de SC já é famoso por diversos motivos, com exemplos positivos em várias situações, como também por sua resistência e superação diante de imprevistos de diversas naturezas. Por inúmeras vezes somos citados por articulistas ou colunistas da mídia, enaltecendo nossos méritos se comparados com outras regiões do país. A mais recente publicação positiva foi do jornalista Moacir Pereira, que em sua coluna no jornal Notícias do Dia, referiu-se às afirmações proferidas no fórum “Cidades Empreendedoras”, as quais dizem textualmente: “A maçã Fuji, da região Serrana, é de melhor qualidade. O alho de Curitibanos é o melhor do mundo. A uva Goethe só é produzida em apenas um lugar no planeta: Urussanga, SC. A banana de Corupá, a mais doce do mercado, não tem comparativo em qualidade. Noventa por cento da ostra consumida no Brasil é produzida em Florianópolis. E a lista dos melhores de SC é ainda maior quando se relacionam os produtos industriais de altíssima qualidade e inovadores, vendidos aqui e no exterior. Ou quando conhecemos as maravilhas do artesanato alemão, italiano, ucraniano, tirolês, polonês, romeno, produzidos no Estado”. Trata-se de referências positivas para nosso estado. Por outro lado, devemos lembrar que periodicamente temos sido afetados por catástrofes e desastres que atingem o meio urbano e o interior.

Eventos como esses causam comoção nas circunstâncias, e geralmente o Poder Público e até a população têm sido sensíveis e solidários em providências de apoio aos atingidos, especialmente nas cidades. No entanto, o comportamento não tem sido o mesmo quando se trata do meio rural. As enchentes afetaram muitas pessoas nas cidades, e devemos ser solidários a elas, mas não podemos esquecer os atingidos no meio rural. Segundo divulgou o secretário da Agricultura Valdir Colatto, o setor agrícola, no levantamento preliminar, portanto não conclusivo, já teve prejuízos no campo de mais de R$ 1,6 bilhões, e pouca gente se sensibilizou com isso. Talvez por não sentir na pele e nem a mídia ter tratado com a mesma atenção o interior. Quase ninguém se preocupa com o prejuízo no campo, mas daqui a poucos dias eles irão refletir na cidade. Vai começar a faltar os produtos perdidos no campo, e isso inevitavelmente irá repercutir nos preços dos supermercados. Além disso, muitas perdas no meio rural terão outras consequências de efeitos retardados. Na agricultura, não se resolve com a agilidade de execução de obras ou reposição de utensílios domésticos. Lá, tem o tempo certo para retomar as atividades e repor os produtos que foram perdidos. Ela precisa ser refeita para voltar à normalidade. Por essa razão, há necessidade de maior atenção com as consequências no meio rural.

Os anúncios do governo nas medidas de apoio aos atingidos pelas enchentes nem sequer se referiam ao meio rural. Por consequência, a mídia estadual não divulgou nada. Algumas providências foram tomadas internamente pela Secretaria da Agricultura, mas nem de longe dá para comparar com o que foi prometido para os demais setores. Mais uma vez somos obrigados a reconhecer que nosso setor, apesar de sua importância, tem pouca expressão política. Não conseguimos impressionar as autoridades e os políticos com nossos problemas. Mas a culpa é nossa mesma. Nas eleições, votamos em candidatos por preferência partidária ou regional, esquecendo os setoriais. Poucos assumem compromisso com o setor agropecuário. Ou melhor, até assinam documentos, mas depois não cumprem e fica por isso mesmo, e na eleição seguinte a novela se repete. Enquanto não assumirmos nosso papel de prestigiar os políticos que efetivamente defendam nossas causas, vamos continuar assim, de mãos vazias a cada problema que ocorre em nosso meio. Pense nisso. 

Fonte: Fecoagro 

Leave a Comment