O cooperativismo brasileiro em discussão

Por Ivan Ramos, diretor executivo da FECOAGRO

 O 15º Congresso Brasileiro de Cooperativismo, realizado recentemente em Brasília, deve ser referenciado como um evento de expressiva envergadura e merecedor dos mais eloquentes elogios, especialmente pela sua forma de organização. Mas também serviu para mostrar a diferença de comportamento de lideranças das regiões do país. Isso pode ser constatado nos resultados das votações democráticas nas propostas a serem priorizadas pelo sistema OCB nos próximos cinco anos. Deve ser reconhecido que a sistemática adotada pelos organizadores foi moderna, tecnológica e que precisa ser lembrado que em nenhum outro evento anterior tinha atingido tal nível, dando oportunidade concreta para que todos opinassem, dentro da sua visão de atuação cooperativista.

A OCB conseguiu organizar um evento de forma atual, com interatividade tecnológica instantânea entre os participantes, comunicação e orientação digital e participação democrática entre os congressistas, com resultados instantâneos nas votações eletrônicas das propostas apresentadas. Também foi importante a iniciativa de antecipadamente coletar as demandas originárias dos estados, como forma de uma pré-seleção dos temas. Reunidas as propostas afins em comissões temáticas apresentadas, discutidas e votadas nas comissões para depois levar ao plenário para escolhas das prioridades, afunilando para os temas mais importantes que merecem ser perseguidos pelo sistema OCB.

Das 100 propostas eleitas nas nove comissões temáticas, e dentre elas, algumas subcomissões, passaram por um filtro, para no final priorizar as 25 principais que devem ser dispensadas maior atenção pelos organizadores do evento. Como foi dito na ocasião, todas as 100 propostas votadas nas comissões temáticas serão consideradas nas ações da OCB, entretanto, nos próximos cinco anos a prioridade serão as 25 mais votadas na sessão plenária do Congresso. Pode até ser questionado o conteúdo das prioridades escolhidas, mas precisa ser reconhecido que a escolha foi democrática e todos os inscritos puderam opinar, e venceram as mais votadas. A diferença de visão estratégica ou de gestão sobre o cooperativismo, assim como seu grau de desenvolvimento nas diversas regiões do país, se sobressaiu nas votações.

A região centro-sul, considerada a mais avançada em termos de desenvolvimento cooperativista, tem visão diferente do sistema de gestão das demais regiões, que nesse caso, e por isso tiveram menor número de propostas priorizadas. Mas isso é típico de quem está mais adiantado: tem visão diferentes dos fatos. A ausência da delegação gaúcha, pelo fato conhecido, e também a ausência de expressivas lideranças catarinenses por impossibilidade logística, ajudaram a reduzir a votação de propostas mais avançadas, originárias dessa região.

Mas o cooperativismo é isso mesmo: é solidariedade e cooperação para tentar nivelar resultados entre entidades ou cooperativas diferentes, tentando puxar para cima o grau de desenvolvimento entre regiões e ramos de todas as atividades cooperativistas. Por fim, precisa ser destacado dois fatos importantes que ocorreram durante o Congresso. Primeiro a iniciativa da OCB de relatar o que foi realizado das propostas do último congresso de 2019. Uma providência elogiável com demonstração de preocupação importante em prestar contas do que foi realizado. E por último, a expressiva participação política e institucional, demonstrando que o sistema cooperativo brasileiro está sendo melhor visto pelas autoridades do país e do exterior. A participação de mais de 30 parlamentares, entre deputados, senadores, ex-deputados, ministros de estado e do vice-presidente da república, delegações internacionais, incluindo os presidentes da ACI e da ACA, demonstrou que efetivamente estamos avançando no nosso cooperativismo, embora ainda tenhamos que progredir muito para nivelar o desenvolvimento em todas as regiões do país, assim como nos diversos ramos do cooperativismo. Mas estamos indo bem, e quem sabe no próximo evento do gênero, possamos ter mais conquistas dos temas aprovados dessa edição. Pense nisso. 

Fonte: Fecoagro 

 

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