O poder econômico pressionando cada vez mais

 

Por Ivan Ramos, diretor executivo FECOAGRO 

Existe um ditado popular que diz: “Dinheiro faz dinheiro.” E outro não menos verdadeiro, que afirma: “Quanto mais se tem, mais se quer.” Olhando essas afirmações pelo ponto de vista econômico, do desenvolvimento, da liberdade econômica e da produtividade, não parecem algo negativo. Entretanto, as práticas usuais no mercado livre precisam ser éticas, honestas e transparentes. Se os atores do mercado são coerentes e abertos aos interessados, “dinheiro pode fazer dinheiro” e a busca por mais e mais pode ser positiva, porque gira a economia, abre oportunidades para mais pessoas se inserirem no mercado de trabalho e promove o desenvolvimento equilibrado da população. 

Mas é necessário diferenciar: conseguir avançar, crescer ou subir na vida sem tentar derrubar os outros, sem artimanhas ou sem achar que apenas um lado pode ter sucesso, é o que caracteriza um progresso saudável. O sistema econômico e o capitalismo exagerado podem induzir as pessoas à perda de referência do que é bom, do que é correto e do que representa convivência harmônica entre as pessoas. Não se pode esquecer que o sol nasceu para todos, desde que queiram ir ao sol sentir seu calor e correr os riscos eventuais de uma insolação. 

O dinheiro, ao mesmo tempo que é um ingrediente altamente positivo para a qualidade de vida das pessoas, também pode ser nocivo quando não sabemos dosar seu uso e seu valor. Os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres não é o ideal em uma comunidade. Entretanto, os pobres precisam querer melhorar de vida trabalhando, produzindo e avançando, e não apenas ficar como massa de manobra de ricos ou detentores do poder político, que preferem manter as pessoas dependentes de intermináveis programas sociais, sem perspectivas de independência econômica. Por sua vez, os ricos ou detentores do poder não precisam abrir mão ou distribuir aquilo que conquistaram honestamente, com trabalho e dedicação. Mas também não deveriam querer conquistar mais com ações obscuras, questionáveis e, às vezes, à força. 

O caso mais recente de abuso de poder econômico, somado à ideologia entre governos alinhados, foi o da França, onde o Carrefour cancelou compras de carnes dos países do Mercosul, sob o pretexto de agressão ao meio ambiente, misturado com denúncias vazias sobre a qualidade das nossas carnes. Há poucos dias, foi a vez da Danone, outra empresa francesa, acusar o Brasil com argumentos improcedentes. Querem os franceses reconquistar seus agricultores descontentes às custas de argumentos inverídicos. Querem fazer valer a força econômica da Europa e da França, atacando outros países que estão avançando no mercado internacional. É o poder econômico tentando ganhar à força. Estão sentindo a perda de produtividade na agropecuária e não querem deixar os outros crescerem. 

O exemplo praticado pelas duas empresas francesas, Danone e Carrefour, somado à ideologia do governo daquele país, acontece, em outras proporções, em diversas atividades econômicas no Brasil e no mundo. Ganhar mercado faz parte da luta, mas deve ser feito sem prepotência e inverdades. O que se espera é que a narrativa das empresas francesas sirva de alerta para que, aqui no Brasil, os grandes não queiram ganhar espaço no mercado a qualquer preço, pois o tiro pode sair pela culatra. Foi o que aconteceu com a Danone e o Carrefour: boicotaram na França e foram boicotados aqui no Brasil. Pense nisso. 

Fonte: Fecoagro 

Leave a Comment

Pular para o conteúdo